História do Curso de Refrigeração e Climatização

     A história do CTI começou em 1964, vinculada ao Instituto de Pesquisas e Orientação Industrial (IPOI) da Escola de Engenharia Industrial de Rio Grande (EEI). Porém, cabe ressaltar que a ideia de criação do curso técnico surgiu junto com a EEI, na década de 1950. No início da década de 1960, o IPOI ajudou a fomentar as indústrias do Rio Grande que necessitavam de melhores instalações e de profissionais especializados. Nesse sentido acrescenta Vassão (15 maio 1964, p. 2):

 

[...] somente na cidade de Rio Grande, dezenove indústrias de pesca, constituindo o maior parque pesqueiro do Brasil, funcionam nas condições mais precárias no que tange às suas instalações frigoríficas que necessitam estar permanentemente em perfeitas e seguras condições de funcionamento, o que não ocorre devido exclusivamente à falta de mão de obra capacitada.

A citação responde aos questionamentos sobre a necessidade de criação do curso de Refrigeração para a formação de técnicos capacitados a atuar na indústria pesqueira em expansão. Até porque, a partir de 1960, ocorreu o crescimento das indústrias de pescado, transformando a produção com o aumento da demanda por congelados. É o que afirma Martins (2004, p. 89): “Na década de 60 as indústrias começaram a se adaptar para produzir também congelados. [...] evidentemente um produto de maior qualidade”.

 

     A importância do setor pesqueiro para o desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional interessou a várias instituições que somaram esforços, objetivando maiores recursos para a preparação de profissionais de alto nível para a indústria da pesca. O MEC, a EEI e a Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia, por exemplo, assinaram Termo de Condições comprometendo-se em aprimorar a indústria da pesca em Rio Grande, através do IPOI (SAMBAQUY, VASSÃO e TAVARES, 21 mar. 1964).

     Entre outras empresas que sugeriram e apoiaram a criação do CTI destacam- se: a Indústria Brasileira de Peixe S. A. – PESCAL; o Centro de Indústrias do Rio Grande; a Wigg S. A. Comércio e Indústria; o Grupo de Planejamento da Baixada Sul Riograndense; e a Associação Comercial de Pelotas.

     Em documento enviado a EEI, o diretor da Pescal sugere a criação do curso de Refrigeração, afirmando a sua importância para o setor industrial local e nacional. Veja a seguir: 

Tendo em vista a exiguidade que se verifica de técnicos em refrigeração, o que não permite que as indústrias de produtos alimentícios instaladas nesta cidade mantenham a assistência adequada às suas instalações frigoríficas, vimos sugerir a Vv. Ss. a criação de um curso especializado para a formação de técnicos no setor de refrigeração, o que, sem dúvida, seria grandemente útil tendo em vista as necessidades apontadas acima, as quais se fazem sentir não somente no setor industrial de nossa cidade mas estende-se por todo o território nacional. A criação do referido curso não só viria garantir o fornecimento de pessoal especializado para a manutenção das instalações, como facilitaria a elaboração de estudos para obras de ampliação e reformas nos equipamentos atuais.

Nossa indústria elaborou, no período de 1963, 3.700.000 quilos de produtos que exigem conservação à baixa temperatura, o que nos dá uma média mensal de aproximadamente 308.300 quilos enquanto que a capacidade total de nossos armazéns frigoríficos não vão além de 1.556 toneladas. Estamos dispostos a colaborar com a manutenção do citado aprendizado e, para tanto, colocamos, desde já, nossas instalações industriais à inteira disposição de Vv. Ss. para a utilização dos alunos do curso técnico (JAEGER, 2 jan. 1964).

     Além da Pescal, informa a Wigg (20 jan. 1964) que “existem dificuldades de se encontrar elementos técnicos capazes de atender [...] a manutenção dos equipamentos frigoríficos”. Nesse sentido, acrescenta o Grupo de Planejamento da Baixada Sul Riograndense que os cursos do CTI “virão preencher uma lacuna que se fazia sentir no imenso parque industrial Riograndense” (SOUZA, 11 mar. 1964). Da mesma forma, reafirma o Centro de Indústrias: “[...] infelizmente, não contamos com eletrecistas nem técnicos em refrigeração para proporcionar assistência metódica e capacitada a êsse imenso complexo industrial” (SILVEIRA, 24 dez. 1963).

     A Associação Comercial de Pelotas também destaca “o grande interesse do comércio e da indústria desta região na efetivação dessa elogiável medida, dado o grande número de frigoríficos e instalações de frios já existentes em nossa cidade” (VIANNA e OLIVEIRA, 10 mar. 1964). Tal criação proporcionava a Pelotas “perspectivas de instalação de novas indústrias do ramo em face das necessidades de aproveitamento e preservação dos nossos recursos naturais na pecuária e agricultura” (VIANNA e OLIVEIRA, 10 mar. 1964).

     Sobre a procura dos candidatos pelo curso de Refrigeração Industrial e Domiciliar, escreve o diretor da Escola de Engenharia ao diretor do Ensino Industrial, do MEC, em Of. 174/64:

O referido Colégio, iniciou suas atividades regulares no corrente ano, com o número de vagas limitado em 60 alunos, tendo entretanto dada a necessidade regional de técnicos, num dos cursos criados, o de Refrigeração Industrial e Domiciliar, havido 120 pedidos de matrículas, graças não só ao prestígio de que goza a Escola no meio estudantil da comunidade, como também pelo atualizado currículo elaborado pela mesma. O outro curso, de Eletrotécnica, não menos indispensável que o primeiro teve também suas matrículas totalmente preenchidas (HUCH, 7 jul. 1964).

     Os cursos do CTI foram mantidos em conformidade com o regimento interno da EEI, “ficando a ela subordinada didática, administrativa e financeiramente” de acordo com a legislação então vigente e das instruções do MEC. Até mesmo o corpo docente do CTI foi constituído principalmente pelos professores da Escola de Engenharia, o que contribuiu com a qualidade dos cursos técnicos (HUCH, 7 fev. 1964). Na falta destes professores o IPOI recebia verba do MEC para “contratar professores para as disciplinas que não constem no corpo docente da Escola de Engenharia Industrial” (SAMBAQUY e VASSÃO, 21 mar. 1964).

     A relação de parte do corpo docente, em exercício no ano de 1965, e das disciplinas ministradas no curso de Refrigeração constam a seguir:

 

Quadro 1 – Relação dos professores e disciplinas de cultura geral no curso de Refrigeração

Disciplinas Docentes
Física Luiz Augusto de G. Rocha; Renato Pires Pereira; Alfredo Braga Weber; Mario Alquati.
Inglês Willian Dawson - Contrato com o Instituto de Idiomas Yazigi; Guilherme Eurique Dawson.
Matemática Luiz Augusto B. Câmpus Moraes; Edison Mendonça; João Carlos Maria Papaléo; Milton M. Ortiz; José Vilmar V. Soares; Antônio Carlos J. Lipiarski; Hugo Krug.
Português Maria Tereza Ribeiro; Enilda Riog – contratos com o Instituto de Idiomas Yazigi; Carmem Vera R. Ribeiro; Nilza Rita da Fontoura
Química Paulo Fernando da Silva Freire; Eliezer de Carvalho Rios; Euclides Sartori.
Práticas Educativas Augusto Costa Lopes

Fontes: ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DE RIO GRANDE. IPOI. CTI, mar. 1965 ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DE RIO GRANDE. IPOI. CTI, 1966.

 

 

Quadro 2 – Relação dos professores e disciplinas de cultura profissional no curso de Refrigeração

Disciplina Docentes
Desenho Técnico Idel Lockschin; Sergio Luiz Pernigotti; Waldemar Eurico de Oliveira
Eletrotécnica Sellby Love Prehn; Miguel Atualpa Nunez
Termodinâmica Carlos Júlio Scherer
Mecânica Técnica Fernando Bezerra Bertolli; Décio Mariante; Mario Alquati
Mecânica dos fluidos João Rocha; Renato Pires Pereira
Práticas Profissionais João Manoel Moraes; Dino Paganin Fontana
Refrigeração Alfredo Braga Weber; Nilo Calçada Silveira; Ivo Pereira Braga
Elementos (Instrumentos) de controle, proteção, medida e isolamento Mario Abbott Torres; Érico Maria Schroeder
Aplicação industrial (Emprego) do frio Graciano Souza; Nilo Calçada Silveira
Projeto de Instalações Frigoríficas Nilo Calçada Silveira; Érico Maria Schroeder

 Fontes: ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DE RIO GRANDE. IPOI. CTI, mar. 1965.

ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DE RIO GRANDE. IPOI. CTI, 1966.

 

     Os professores do CTI foram reconhecidos pela dedicação, comprovada pelo “alto índice de frequência”, e por suas doações que favoreceram o andamento da instituição. É o que destaca Almeida (fev. 1965, p. 1) ao relatar: “Graças a esses recursos, conseguimos mobiliar duas salas de aula e adquirir material para a secretaria, no exercício de 1964”. O primeiro edital para a inscrição de ingresso aos dois cursos iniciais do CTI foi vinculado no jornal Rio Grande em março de 1964. Conforme o edital foram trinta vagas na primeira série de cada curso. É o que pode ser visto a seguir:

     Três dias antes da publicação deste informe reunia-se a congregação da EEI, aprovando a criação dos cursos de Eletrotécnica Industrial e de Refrigeração Industrial e Domiciliar (ATA N. 35, 6 mar. 1964). Outra reunião a ser destacada foi registrada na Ata n. 44 (14 mar. 1964), na qual o conselho discutiu sobre o critério de seleção dos alunos dos cursos técnicos, “ficando acertado que seria o de Concurso de Títulos e Notas, com a condição da secretaria fornecer uma relação da situação dos candidatos”; o início das aulas, marcadas para o dia 23 de março do mesmo ano; o quadro de professores; os horários e o plano de criação de diversas comissões, contendo os respectivos responsáveis. Dois anos depois do Edital n.1/64 outro informe no jornal Rio Grande demonstra o êxito dos primeiros cursos do CTI. Em dezembro de 1966 formava-se a primeira turma no salão auditório da EEI, como apresenta a Figura 2. 

 

Figura 1 - Edital n. 1/64 do CTI

Fonte: Rio Grande, 9 mar. 1964, n. 73, p. 7

 

     Na 1ª série da turma de 1964 havia trinta alunos matriculados, porém apenas treze formaram-se na turma de Refrigeração. Na 1ª série da turma de 1965 havia trinta e quatro discentes matriculados na maioria das disciplinas, dentre eles apenas uma mulher, Hilda Susana Kauer. Esta e mais dezesseis alunos concluíram o curso em 1967, na segunda turma de formandos. É o que pode ser visto nas Figuras 3 à 5.

 

     Como bem diz Sanfelice (2007, p. 79), “não há instituição escolar ou educativa que não mereça ser objeto de pesquisa histórica. [...] Não há instituição sem história e não há história sem sentido”. Pesquisas sobre os cursos do CTI ainda podem ser realizadas e, certamente, contribuirão para a História da Educação. Espera-se que novos olhares sigam desvelando essas e outras histórias institucionais que continuam no escuro dos arquivos e prestes a desaparecer da memória rio-grandina. Espera-se, enfim, ter contribuído para manter viva a memória da instituição que marcou a gênese da formação de técnicos em Refrigeração no Brasil.

 

 

Figura 2 – Primeira turma de formandos do CTI

Fonte: Rio Grande, 10 dez. 1966, n. 8, p. 12

 

 

 Figura 3 – Convite de formatura do CTI - 1967

Fonte: Acervo do NUME

 

 

Figura 4 – Formandos do curso de Refrigeração - 1967

Fonte: Acervo do NUME

 

Figura 5 – Primeira mulher com o título de técnica em Refrigeração no Brasil

Fonte: Jornal Rio Grande, 16 dez. 1967, n. 14, p 6.

  

Figura 6 – Hilda Susana Kauer entre os formandos do curso de Refrigeração - 1967

Fonte: Foto cedida pela Sra. Hilda Susana Kauer

 

 

Saiba mais em: A GÊNESE DO CURSO DE REFRIGERAÇÃO INDUSTRIAL E DOMICIAR DO COLÉGIO TÉCNICO INDUSTRIAL (CTI) DA CIDADE DE RIO GRANDE NA DÉCADA DE 1960

 

Referências